Um destes dias estava sossegadinho na minha rotina profissional (às vezes nem por isso, mas isso é outra conversa) quando dou por reboliço, um colega apavorado, quase ele próprio numa crise apoplética.
- Épa, está ali uma rapariga que não se está a sentir nada bem.
-Mas que sintomas tem ela, tentei eu inquerir o meu colega ? (Na altura era o único elemento presente com o curso de socorrismo, ministrado pelo próprio INEM) mas o coitado do meu colega estava tão aflito, que nem vocifrar uma palavra estava em condições. Lá foi num ápice (um pouco céptico, pois já fiz o curso há uns anos, embora estivesse até ao ano passado como bombeiro voluntário socorrista, numa prestigiada instituição, que jamais esquecerei, pois uma das maiores lições de vida que tive) a pobre da rapariga encontrava-se com uma crise de ansiedade bastante acentuada com um quadro de asma, mas neste casos manda o bom senso e os manuais, fiz todas as manobras necessárias, manda o protocolo que se relate o sucessido ao 112, que depois de fazer o despiste e o rastreio da situação, se este serviço não conseguir resolver o problema, pois estamos a falar com um profissional do sector mais concretamente um enfermeiro, manda mais uma vez os protocolos que este ligue ao um médico do CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes), estranhamente liguei o 112, esperando que os procedimentos acima descritos fossem cumpridos, de repente vi-me a falar com uma médica do CODU, depois de explicar a urgência a esta profissional, esta continuava a fazer-me perguntas mais descabidas possiveis, explicando eu, que o que se estava a fazer estava certo, até para que esta profissional preceba quais os meios a deslocar para o local, deveria ser assim, mas estive-mos mais de 30 minutos neste diálgo, suplicando eu, face à falência (termo técnico para desmaio) da rapariga. Só depois de dar um berro á senhora doutora do CODU, esta lá se descaio, com a verdadeira razão deste diálgo muito útil noutras situações, mas face ao que estava eu a observar e recorrendo à minha experiência, lá foi dizendo esta a muito custo (enrrolava o croquete como se costuma dizer, já tinha passado seguramente 35 a 40 minutos) que a razão: era não haver ambulância disponível, e se eu quizesse recorrer a uma ambulância, tinha ainda que telefonar para uma corporação de bombeiros e fazer o respectivo pagamento o seguro da rapariga assumir o custo, foi o que fiz, que se lixa-se o dinheiro, o que queria mesmo era um meio de socorro para que a pobre rapariga tivesse a assistência necessária num hospital, liguei para a instituição onde foi voluntário, identificando-me (se não era mais 30 minutos ou mais) como antigo membro daquela instituição e, depois de informar o meu ex-colega bombeiro da minha conversa com a médica do CODU. Não sei se sabe o leitor (a): acontece esta aberração; está vedado aos bombeiros por decreto-lei que estes façam urgências sem a prévia autorização do INEM (quem paga, o que é o caso, é o sinistrado, conforme descrevo nesta crónica) .
Por meus senhores, tenham juízo e, escolham muito bem, quando tiverem um acidente, e rezem para que o INEM tenha ambulâncias disponíveis, e se a moça tivesse morrido, por falta de assistência adequada ? Quem se renponsabilizaria ?
É por estas e por outras, é que de vez em quando lembram-se Odemira? Ouvimos notícias de pessoas que morrem por falta de assistência, mas como é costume em Portugal a culpa morre sempre sózinha, logo vem o INEM desculpar-se com horas,minutos e segundos para se tentar desculpar com a ineficácia de meios que tem, fruto de uns políticos burucratas ao produzirem estes estupidos decretos-leis que tiram o direito de bombeiros que muitas das vezes estão a poucos metros das ocorrências de prestar socorro com pessoal treinado e habilitado, Estas leis fazem-na com total desconhecimento no terreno, e sem ouvir todas as partes, o que para mim ainda é mais aberrante , é que um minuto que seja faz toda a diferença entre a vida e morte.