segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Saramago igual a si próprio.


Sem a Bíblia seríamos melhores, diz Saramago

Escritor apresentou ontem o seu novo livro, Caim, que acredita, "não incomodará" a Igreja Católica
Ainda bem que não caem alfinetes do tecto", brincou José Saramago. "Não teriam [ontem] onde cair" no auditório do Museu Municipal de Penafiel. O escritor não sabe quem teve a ideia de ali fazer "o lançamento mundial" de Caim, o seu último livro, mas desconfia que foi a mulher, Pilar del Río. E estava "satisfeito". O lançamento ocorria no quadro do Escritaria, festival multidisciplinar que este ano lhe presta homenagem. E Saramago sente que tanto se tem falado nele que já quase se lhe fez "a autópsia".
O Nobel da literatura de 1998 falou devagar, arrancando aqui e ali, com as suas provocações, alguma gargalhada ao público. Apresentou Caim como uma das personagens "mais odiadas da história da humanidade", responsabilizou Deus e desculpabilizou Caim pela morte de Abel.
Saramago acredita que "Caim nunca existiu". Saramago acredita que nada do que está na Bíblia existiu - "tudo aquilo é absurdo, disparatado". Julga, porém, que isso "é indiferente". "A Bíblia tem uma influência muito grande na nossa cultura e até na nossa maneira de ser. Sem a Bíblia seríamos outras pessoas - provavelmente melhores", disse.
Para "abrir o apetite" dos presentes, o autor contou um bocadinho do livro. Condenado à errância, Caim conhece Lilith, "uma devoradora de homens" ( que "forçou" Saramago a, "pela primeira vez" na sua vida, "escrever páginas eróticas"). Quando dali parte cruza-se com outras personagens bíblicas, como Abraão. Saramago inventa-lhe "um outro presente" para recontar meia dúzia de episódios violentos e sustentar que Deus é cruel, vingativo e enlouquecedor.
A Bíblia, reiterou, é um livro impróprio para crianças, "um manual de maus costumes". "Sempre disse que nunca inventei nada. Limito-me a pôr à vista. E, de certo modo, é o que faço com este livro", declarou. Apesar de tudo, está convencido de que Caim "é um livro divertidissímo". E que a Igreja Católica não se incomodará. Os católicos pouco ligam ao Antigo Testamento. Quem se poderá incomodar serão os judeus. "Não é contra Deus que escrevo, uma vez que Ele não existe. É contra as religiões. Para que servem as religiões? Não servem para aproximar as pessoas. Nunca serviram."
Público- Ana Cristina Pereira
Penso que Saramago Prémio Nobel da Literatura não esqueçamos, ao fazer estas declarações quis criar polémica na opinião pública, talvez um confronto entre pessoas crentes e não crentes, para não esquecer o ideário da Igreja Católica que ele rejeita, contado ao longo de séculos a sucessivas gerações. Saramago, ao proferir estas declarações, está a ser coerente consigo próprio, um velho comunista se bem que por vezes divergente com a linha do partido, mas no fim e a quase com 90 anos um ortodoxo da linha dura do PCP, estas declararações não são mais que ideológicas e exprimem já no fim da vida (não desejo a morte ao senhor, que fique muito bem claro) talvez um "testamento " político que teve início no livro "Evangelho segundo Jesus Cristo" uma visão, quase de ajuste de contas com a Igreja e com os seus crentes.
Por isso Saramago ao escrever o livro " Caím" quiz "fazer as contas com o criador"e , e com a Igreja que ele personifica, o personagem é mais uma uma vez com o homem comum ele no fim quer ajudar a acabar com os dogmas da Igreja que ele despreza.

3 comentários:

maria teresa disse...

Não gosto de José Saramago como pessoa, embora goste de algumas (apenas algumas ) obras dele, o facto de não crer em Deus (eu também não) não lhe devia permitir gozar com os que acreditam, sob que forma for.
Comentar a Bíblia como o fez não revela muito bom senso e já tinha idade para o ter.
"Sem a Bíblia seríamos outras pessoas (...) melhores", as pessoas que não acreditam na Bíblia são melhores que as que acreditam ? Francamente esta afirmação deve ser "para encher chouriços" ou então não percebi nada do que ele quis dizer, antes assim...

R disse...

Eu fui criada catolicamente. Já atravessei várias fases na minha vida. De mais ou menos fé. Não fico nada chocada com a opinião do Saramago ou de outra pessoa qualquer, que não acredite em nada. As pessoas são livres de acreditar, ou não. Ele não acredita! Está no seu direito.Muitos de nós não o fazemos se calhar por medo. É que pensar que não existe NADA. É mais doloroso.
Um beijinho ergela

ergela disse...

Maria Teresa permita-me que a corrija.José Saramago diz expressamente o seguinte "Não é contra Deus que escrevo, uma vez que Ele não existe.É contra as religiões.Para que servem as religiões?Não servem para aproximar as pessoas.Nunca serviram" como vê Saramago é um ignorante no que diz respeito às religiões visto não ser crente,não pode acreditar naquilo que nunca viu e, muito menos sentio a fraternidade que existe na Igreja Católica (sou crente, foi catequista e, praticante)se pode-se estar com ele, convidava-o para alguns grupos de crentes jovens ou não que se cria na Igreja, mantenho aquilo que escrevi no blog.Saramago está a "ajustar contas" com a Igreja Católica e os crentes. Só não pode mexer com Deus, porque cito um livro que um dia li "Em nome de Deus" e aí Saramago tem razão, os atropelos que a Igreja e a sua hierarquia do Vaticano fez e faz em nome Dele (ver a história mal contada da morte permatura do cardeal Albino Lucciani,ou seja João Paulo I).

Querida amiga Mariinha, espero que agora esteja todo bem com a tua familiar. Não, não tenho medo de me assumir como crente em Deus e, antes pelo contrário nunca senti medo por isso, admito que haja que por ser mais simples, dizer que não acredita até é mais fino hoje em dia,mas, bem lá no fundo acreditam.

Beijos às duas, minhas amigas.